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sábado, 5 de setembro de 2020

PVE: Boas práticas de gestão durante a pandemia (parte II)

Na primeira parte dessa reportagem, publicada em 27/08, conhecemos como o projeto de casas sementeiras adotado em Almirante Tamandaré (PR) e as mudanças de atitudes das gestoras de Curral Novo do Piauí (PI) têm dado frutos no enfrentamento dos desafios impostos às redes de ensino pela pandemia.
Nesta segunda parte, relatamos as experiências de Camaçari (BA)Betânia do Piauí (PI) e Capivari de Baixo (SC). Este conjunto de cinco cidades mostra a diversidade de soluções locais encontradas e trabalhadas no âmbito do Parceria pela Valorização da Educação (PVE), iniciativa do Instituto Votorantim com parceria técnica do CENPEC Educação e outras instituições.

Também revela o potencial que o PVE tem de apoiar os municípios, tanto pelas dimensões e competências de gestão que já vinham sendo trabalhadas nas localidades ao longo dos anos, quanto pelas mudanças que passaram durante a pandemia.

O PVE está muito dinâmico esse ano, e esse dinamismo tem possibilitado ajudarmos os municípios a até prever uma necessidade. Foi muito difícil encontrar esse eixo norteador no início. Mas agora o projeto está bem antenado”, diz Heloísa Martins Proença, formadora do PVE.

1. Foco na organização de pessoas e registros – Camaçari (BA)
Em Camaçari (BA), município a cerca de 50 km da capital baiana, não foi possível ter uma semana inteira de aula presencial, pois o ano letivo começa em março – justamente quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil.
Após férias antecipadas de 15 dias, a Secretaria Municipal de Educação disponibilizou a partir do dia 20 de abril atividades on-line por meio de uma plataforma. Com a entrega dos primeiros vale-merendas, o órgão começou a diagnosticar e avaliar o acesso aos materiais até então disponibilizados. A partir de maio, passou a entregar também materiais impressos.
Nosso trabalho está centrado em três eixos: interação família-escola, entrega de suprimentos (vale merenda, kits escolares, atividades impressas, livros didáticos), e formação. Os professores estão em processo formativo desde o início do ano, com a jornada pedagógica, e desde então a rede não parou Ezione Santos de Oliveira, supervisora dos anos iniciais do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Camaçari

Comitês escolares, de curadoria e gestor

A rede municipal de educação tem 102 escolas e cerca de 34 mil alunos. Para organizar toda essa distribuição e garantir que o vínculo com a escola não se desfizesse, a Secretaria se organizou em três comitês.
comitê gestor, composto por membros da equipe técnica da diretoria pedagógica do município e do Conselho Municipal de Educação, tem uma função mais deliberativa, aprovando o planejamento das atividades propostas, analisando o relatório geral e assessorando tecnicamente os comitês de curadoria.
Estes, por sua vez, são organizados obedecendo os segmentos, sendo compostos por professores, coordenadores pedagógicos e representantes de gestores e de modalidades (Educação Especial, por exemplo). São os comitês de curadoria que discutem o processo de planejamento, dando apoio junto às escolas sobre os recursos utilizados para as atividades, a continuidade dos conteúdos, o cuidado com a seleção e as intencionalidades das práticas propostas etc.
Por fim, os comitês escolares, que, na verdade, foram os primeiros a serem constituídos, e são a base do projeto. Formados pela equipe gestora e professores, são eles que fazem a interação com a família, o estudante e com o comitê de curadoria.
Esse comitê, além de ter um viés democrático – que é uma das questões mais relevantes -, tem autonomia para fazer todos os ajustes do projeto que está sendo desenvolvido lá, na relação com o território da escola. É um trabalho muito bacana, que também engloba o acolhimento das famílias Heloísa Martins Proença, formadora do PVE no município

Repositório das escolas

Além da organização das pessoas em comitês, que garantiu uma atuação em conjunto, a Secretaria continuou um trabalho de organização institucional que já havia iniciado em 2019, no âmbito do PVE.
Pensando em como melhor organizar e garantir, para futuras comprovações, que essas atividades, planos de ações e planejamentos pedagógicos estivessem registrados, a Secretaria instituiu o Repositório das Escolas.
O Repositório é um espaço institucional onde as escolas vão postando as suas atividades e produções, e o Comitê de Curadoria vai fazendo esse processo de análise, de comprovação e de validação. Se necessário, ele chama a escola para fazer ajustes nessas atividades Hosana de Souza Gonçalves, gerente de Currículo e técnica formadora da Secretaria Municipal de Educação de Camaçari.
Hosana de Souza Gonçalves, gerente de Currículo e técnica formadora da Secretaria Municipal de Educação de Camaçari.
A equipe também criou um documento com indicadores de aprendizagem, para facilitar o processo de análise dessas atividades pedagógicas.
Para a formadora do PVE Heloísa Proença, o foco nessa organização dos processos e registros foi determinante para que o município pudesse ter um projeto bem estruturado de atividades remotas.
“Esse investimento na documentação, que realizamos o ano passado inteiro, agora foi essencial. Porque se você já tem essa prática de olhar para o que está acontecendo e de produzir uma reflexão, quando chega um cenário de emergência como esse, totalmente adverso, antes de se queixar você vai fazer a análise, com mais rapidez”, explica.
Assista ao webinário promovido pelo PVE e saiba como a Secretaria Municipal de Educação de Camaçari (BA) atuou junto com a sua equipe para reorganizar a rede de ensino do município
2. Minuto Jovem: protagonismo, mobilização e cidadania – Betânia do Piauí (PI)
“O desafio do professor se adaptar a essa nova realidade das aulas remotas”. “Os principais desafios da gestão escolar neste período de ensino remoto”. Quem vê os títulos dessas lives já imagina que elas foram organizadas por alguma Secretaria de Educação ou organização que trabalha com formação de professores. Ledo engano.
Essas lives fazem parte do Minuto Jovem, uma iniciativa do grupo de 38 jovens mobilizadores de Betânia do Piauí (PI). As lives estão sendo organizadas desde o final de maio, e são transmitidas pelas redes sociais toda semana. “Como nós alunos estamos nos adaptando as atividades remotas?” foi o tema do dia 9 de julho.
Com a pandemia, vimos que as pessoas perderam o emprego, ficaram sem aulas, algumas ficaram até depressivas, enfim, a cidade parou. Decidimos criar algo para levar informação para as pessoas, e ao mesmo tempo entreter. Foi daí que surgiu o Minuto Jovem, que acontece toda quinta-feira Erinaldo Reinaldo Rodrigues, técnico mobilizador da Secretaria Municipal de Educação e professor do Fundamental II

Trabalho em grupo

mobilização é um dos eixos trabalhados no PVE, com grupos de lideranças e grupos de jovens. A ideia dessa frente de trabalho é discutir a importância da articulação, mostrando que a educação também acontece em outros espaços do município, e planejar e elaborar ações voltadas para o seu desenvolvimento.
Mesmo com a pandemia, o grupo de jovens não se desmobilizou em Betânia do Piauí (PI). Para organizar as lives, eles se dividem em grupos menores que são responsáveis por diferentes ações: alguns fazem a divulgação, outros trabalham na transmissão ao vivo, outros na coleta das dúvidas e perguntas do público nos diferentes grupos de redes sociais. Há também quem faça a apresentação, que muda a cada semana, e quem faça o contato com os entrevistados participantes.
                                       Material de divulgação de uma live organizada pelo Minuto Jovem.
Montamos um plano de trabalho e fizemos um plano de ação para as lives. Nos momentos de encontro com eles, eu trabalho questões que estejam latentes na ocasião, como o desafio de trabalhar em grupo, ou a importância de saber lidar com pontos de vistas diferentes e da escuta. Também trocamos figurinhas sobre como foi a ação e planejamos as seguintes”, explica Eliana Rodriguez Moreno, formadora do PVE no município.
Além do debate sobre os desafios do momento da perspectiva de diferentes atores da educação, o Minuto Jovem já falou sobre fake news, com a participação de um advogado; das medidas da Secretaria Municipal de Saúde para a prevenção da Covid-19; do poder da música em época de pandemia; e de violência doméstica, com a participação de uma assistente social.

Histórico de protagonismo e cidadania

No dia 23 de julho, a live tratou de uma grande conquista desse grupo: o Projeto de Lei 004/20, que foi aprovado pela Câmara Municipal em 15 de junho de 2020 e trata da revitalização do principal rio da cidade, o rio Itaim.
O projeto é fruto do trabalho de conscientização realizado pelos jovens mobilizadores durante o ano passado. Eles abraçaram a causa uma vez que viram o descaso da população com o rio, que tem sua nascente na cidade e deságua na barragem de Patos do Piauí, cidade a aproximadamente 100 km de distância – a principal fonte de abastecimento de água da região.
Eles chegaram a realizar articulações com o município de Patos do Piauí, divulgar as suas ações de conscientização pelas redes sociais e conversar com os professores da rede para incluir a temática do rio Itaim no Projeto Político Pedagógico das escolas – o que foi acatado. Por todas essas ações, foram um dos destaques do Prêmio PVE de Jovens Mobilizadores.
O fato de eles terem influenciado uma política pública é o mais relevante, porque raramente os grupos de mobilização alcançam esse grau de interferência em uma transformação social. Então eles terem acessado a Câmara, defendido e conquistado uma causa é uma grande sacada, em termos de protagonismo juvenil e cidadania. Eliana Rodriguez Moreno, formadora do PVE no município
3. Acolhimento que leva atividades e traz devolutivas – Capivari de Baixo (SC)
Mesmo para os municípios menores, garantir que as atividades remotas – sejam impressas ou on-line – cheguem a 100% dos estudantes da rede é um desafio que poucos conseguem alcançar. Mas foi o que aconteceu em Capivari de Baixo, cidade do polo de Tubarão, em Santa Catarina, com 14 escolas e menos de 3 mil alunos.
A formadora do PVE no município Heloísa Martins Proença aponta algumas questões que contribuíram para esse atendimento. A começar pelo envolvimento ativo da secretária municipal de educação, Yara Faraco Zin, passando pela rápida resposta que o município deu às adversidades trazidas pela pandemia e o foco em acompanhar o acesso desses alunos ao material.
Município teve um grupo de escolas que já na última semana de março começou a organizar o ensino remoto, e outro na primeira semana de abril. Desde o começo, eu insisti que se eles quisessem validar as atividades, precisavam ter uma devolutiva forte dos alunos Heloísa Martins Proença, formadora do PVE no município

Devolutivas

A equipe levou a dica a sério, e em abril eles registraram 100% dos alunos com atividades entregues. Como as entregas foram resolvidas rapidamente, o foco, já em maio, passou a ser os processos de avaliação.
“Fomos conquistando as devolutivas no dia a dia. Os professores e diretores estão sempre em contato com as famílias, seja por cartinhas ou mensagens, perguntando com cuidado do porquê não dar a devolutiva, do porquê do não retorno etc”, explica Yara Faraco Zin, secretária municipal de Educação, Cultura, Esporte e Turismo de Capivari de Baixo (RS).
A taxa de devolutivas tem ficado em torno dos 60 a 65%.

Pensar a avaliação

Dos quatro municípios com os quais Heloísa trabalha no PVE, Capivari de Baixo (SC) foi o que iniciou as conversas sobre avaliação mais cedo, tendo fechado o processo de avaliação do primeiro semestre em junho. Foram elaborados conjuntos de avaliações diagnósticas, para todos os segmentos, discutidos e aperfeiçoados pelos professores.
“A equipe gestora providenciou esses materiais, de duas formas (digital ou impressa), e fez uma orientação de como essas avaliações seriam aplicadas em casa. Para a análise, organizamos um processo de relatório, cujo resultado vai indicar a organização do trabalho até o final do ano. Agora, temos discutido a questão das avaliações qualitativas, e não quantitativas, que vai no sentido de dar notas e da retenção dos alunos”, explica a formadora.
“Temos uma comissão diagnóstica, e temos esclarecido que a avaliação não é para saber qual nota o aluno vai tirar. Queremos ver até onde a criança aprendeu e até onde conseguiu avançar, para que possamos continuar ajudando e melhorando o nosso planejamento pedagógico”, diz a secretária municipal de educação Yara Faraco Zin.

Engajamento

Além de conseguir estabelecer um diálogo entre professores, diretores e a equipe gestora da secretaria, o município tem sido um assíduo participante não só dos encontros formativos, mas também das atividades extras promovidas pelo PVE, como os webinários.
Esse apoio nas atividades do programa também é reconhecido pela secretária Yara Faraco Zin, que vê um processo de aprender junto e de assessoramento que tem sido determinante para o sucesso das ações do órgão.
Nosso município se organizou muito bem porque fomos fazendo as coisas passo a passo, um planejamento com direcionamento. Os professores logo foram buscando soluções para os problemas de como chegar às famílias, assessorados por nós da Secretaria e pela Heloísa. Penso que se não fosse esse suporte do PVE, nós não estaríamos aqui. Estaríamos aquém Yara Faraco Zin, secretária municipal de educação de Capivari de Baixo (SC)
Fonte www.cenpec.org.br
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Item Reviewed: PVE: Boas práticas de gestão durante a pandemia (parte II) Rating: 5 Reviewed By: Genivaldo Sousa